Coincidentemente ou não, o Dia de São Jorge e o Dia de Ogum são celebrados na mesma data – 23 de abril. Você já parou para pensar que eles podem ser a mesma pessoa? O que você acha? Vamos entender um pouco mais sobre esse sincretismo!
O que é sincretismo?
Sincretismo significa a mescla entre doutrinas distintas que permanecem com os traços de sua doutrina original. Um grande exemplo de sincretismo é o momento em que os escravos chegaram ao Brasil, pois trouxeram consigo toda a carga cultural da África e as suas religiões, como o candomblé e a umbanda. Mas as suas crenças foram vetadas e eles foram obrigados a passar por um longo processo de catequização, pois naquela época apenas a religião cristã católica era permitida.
Mas, com muita inteligência, os escravos encontraram meios de manter a fé em seus deuses e começaram a fazer algumas associações: eles invocavam os seus orixás por meio das imagens dos santos católicos: Oxóssi, como São Sebastião, Iansã, na forma de Santa Bárbara, Oxalá, como Jesus Cristo, Ogum, como São Jorge, entre diversas outras associações. A partir dessa ação, cada orixá passou a representar um ou mais santos da Igreja Católica.
Sincretismo entre São Jorge e Ogum
Associado a batalhas e lutas, Ogum é um orixá sem medo, guerreiro e sempre pronto para qualquer coisa. As suas lendas enfatizam a sua capacidade de superação, de liderança, de vitória. Sendo uma grande inspiração de força para os seus fiéis, Ogum é considerado por muitos como um guerreiro ideal, que sempre está de prontidão para vencer os combates.
Assim, fica mais fácil de entender por que ocorreu a associação de Ogum a São Jorge. Em sua imagem, o santo católico está em um cavalo, provido de armadura e lança, o que nos remete automaticamente ao combate. Tendo sido um dos soldados do exército romano, São Jorge conseguiu subir na hierarquia até tornar-se um dos oficiais.
Por causa dessa associação, ambos são comemorados no dia 23 de abril.
Eles são o mesmo?
Nos tempos atuais, esse sincretismo não é muito bem aceito pelos que praticam o candomblé e a umbanda. Essa resistência ocorre porque com o passar dos tempos essas religiões se tornaram mais independentes e maduras, declarando e enfatizando a sua própria fé. Por isso, não são todos os que possuem essa crença que aceitam a ideia de que Ogum é o mesmo que o santo católico São Jorge.
Existe uma diferença muito relevante entre eles: os orixás são considerados como entidades que possuem defeitos e virtudes, diferentemente dos santos da Igreja Católica. Além do fato de que a natureza de energia de espírito de Ogum é totalmente oposta à natureza de São Jorge. Por esses e outros motivos, não é possível que os dois sejam a mesma pessoa.
Semelhanças entre os dois
Os dois são considerados como justiceiros e grandes guerreiros. São Jorge foi intitulado como o protetor dos ferreiros, dos militares e dos soldados. É tido como o homem do exército de Deus que foi capaz de enfrentar um dragão em cima de seu cavalo e poderia ainda enfrentar as bestas para defender com garra o Reino dos Céus.
Enquanto isso, Ogum é o orixá que sempre está na frente das batalhas. Conhecido por ser desbravador e destemido, ogum foi responsável por ensinar os homens como trabalhar com fogo e ferro. Ele é representado por uma espada – a mesma que utiliza para atender aqueles que o invocam.
O santo e o orixá são geralmente invocados por aqueles que necessitam de caminhos abertos. As pessoas os invocam para pedir que afastem inimigos, ajudem a resolver alguns problemas de injustiça que acometem alguns dos fiéis.
História de São Jorge
Esse santo nasceu na Turquia, mais precisamente na Capadócia, em 275 d.C. O seu pai era um grande militar e morreu em uma batalha – acontecimento que fez com que Jorge e sua mãe se mudassem para a Terra Santa. A mãe do santo era nativa da Palestina, muito instruída e tinha muitos bens, o que possibilitou Jorge de ter uma educação de mais qualidade.
Por ter um espírito de combate, se tornou rapidamente um militar e logo em seguida virou capitão do exército romano. Jorge era muito habilidoso com armas e também um dos militares mais dedicados da época.
No dia 23 de abril de 303, Jorge morreu após batalhar contra o decreto do imperador Diocleciano, que queria eliminar de vez os cristãos. O militar foi torturado e degolado após se negar a declarar que abandonaria a sua fé cristã.
História de Ogum
A mitologia africana afirma que a primeira vez que Ogum apareceu foi como um homem caçador nominado de Tobe Ode. Dizem que ele foi o primeiro orixá a descer do céu e viver entre os homens na terra. Considerado como o último Igbá Imole – grupo de aproximadamente 200 orixás de direita que por alguns motivos foi inteiramente destruído por ele. Depois desse fato, Ogum recebeu a incumbência de ser líder do grupo Irun Imole, composto de 400 orixás de esquerda.
Segundo a mitologia, Ogum tinha a responsabilidade de ensinar os homens como fazer alavancas, pás, machados, enxadas, espadas, entre muitas outras ferramentas de aço e de ferro.
A religião africana conta que quando Oduduá, pai de Ogum, ficou cego, deixou para o filho a responsabilidade de liderar a cidade inteira de Ifé. Durante o tempo em que foi líder, Ogum fez parte e instigou diversas disputas contra alguns reinos vizinhos, os quais sempre tomava para si vencendo batalhas. Tais acontecimentos fizeram com que ele ficasse grandiosamente conhecido pela sua natureza de guerreiro.
A mesma coisa acontece entre os católicos. Eles nem cogitam fazer essa associação, pois afirmam que se fizessem, estariam adorando e fazendo reverência a um Deus de um culto totalmente pagão que acredita em entidades não humanas.
fonte: @eusemfronteiras